quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O leite

Foi daqui, dali, d’além

De onde ela surgiu

De quando ainda era menina

De quando se tornou esteio

Dos seus seios

Gigantes pequeninos

Dos seus impulsos maternos

Do seu leite mamava toda a gente

Menos o pai

Porque este, distante, apenas sabia da sua não reconhecida existência

Distante que estava, que era, que se deixava ficar,

Não conseguia bebê-lo

Antes, tornava-o ainda mais necessário

E reforçava sua árdua missão de alimentar

Quanto a ela, sequer se sabia mulher!

Só o conheceria outro dia

Só o seria depois

Ainda que, por meios nebulosos, o tivesse sido prematuramente

Contrariando a ordem natural da vida

Antecipando o tempo de o ser

Mas o leite

Tinha de tê-lo!

Tinha de oferecê-lo

Pois havia fome

Fraqueza

Quem disse que a doação é indolor?

Doía-lhe!

Até sangrava aquele mar de puro amargar

Naquela confluência de miseráveis seres necessitados

Esse mar tornava-se mais angustiante, desesperador

Que acontecia aos seus sonhos de criança quando, pequena adulta, dava de comer?

Que se fazia à sua infância quando, pequena mulher, dava de beber?

Distanciava-se de seu eixo hereditário

Renegava um futuro previsível

Abraçava um destino?

Uma sina?

Vislumbrava um incerto amanhã diferente

Uma mulher se formava

Uma mãe se fortalecia

E uma criança secava

Pois segurou em seus braços

Sustentou em seus ombros

A casa, a família, os eus, os tus

Seus ocultos pesos, dores, segredos

O peso de todos nós

O peso de todos os nós.


(14/08/2011)

Colcha de retalhos

Foto: Jocevaldo Santiago
Colcha de retalhos
(A Lina e Annie, as mulheres da minha vida )

Tua história, nossa história
Escrita, tecida, cosida, costurada
Um dia rasgou-se
E deixou-se entrever o anverso
Porque és o meu verso, reverso
E eu, o avesso
Colcha de retalhos
Nossos fios se entrecruzam
Produzindo novas peças que,
Ora silenciosa,
Ora ruidosamente,
Ganham força e formato
E se impõem
Imponentes
São vários os pedaços
Eles se querem juntar
E quando se juntam, falam
Desconstroem
Reconstroem
Porque são uma nova história
Nossos pedacinhos
Formam um todo perfeito
Fragmentado
De incertezas e imperfeições
Os pedacinhos,
Quando juntos novamente,
Segredam
Falam que o velho e novo
Precisavam ser cúmplices
Para, então, se tornarem fortes.
Estava escrito.
(02/10/11)

domingo, 28 de agosto de 2011

Eu não me escondo mais

Triste lugar aquele onde os indivíduos se encolhem, tentando se esconder dos seus conflitos, dores, desejos, sonhos e até da própria identidade, difícil de se estabelecer. Para estes, muitas vezes, a vida corre como um turbulento rio, onde amargar as tristezas e debater-se para não deixar transparecê-las são uma constante, e a ideia de felicidade só pode ser alimentada se dentro de uma perspectiva. Buscar outras alternativas é improvável, mais que isso: é vetado!É o que eu chamo de uma triste vida, porque já a conheci de perto. Contudo, ou por isso mesmo, entendo que há saída. Saída, não, SAÍDAS.
Mudar é uma das marcas e POSSIBILIDADES mais fascinantes da vida. Pessoas mudam, sonhos, valores, conceitos também. Que pode haver de errado nisso?

Mudar de segmento religioso
NÃO É CRIME. Estamos num país cujas leis nos respaldam o direito à liberdade religiosa. Ser privado dessas prerrogativas é uma ingerência a direitos previstos por lei, e aí sim, teremos um crime.
Viver intensamente a busca da felicidade é mais que um presente que o Criador nos deu, é uma motivação para continuarmos vivos e tirarmos proveito da nossa passagem por este plano.
Sem máscaras. Não é preciso mais se esconder. Poder assumir-se com seus valores e identidade, libertos da hipocrisia, é, sem dúvida, uma dádiva divina!