Foi daqui, dali, d’além
De onde ela surgiu
De quando ainda era menina
De quando se tornou esteio
Dos seus seios
Gigantes pequeninos
Dos seus impulsos maternos
Do seu leite mamava toda a gente
Menos o pai
Porque este, distante, apenas sabia da sua não reconhecida existência
Distante que estava, que era, que se deixava ficar,
Não conseguia bebê-lo
Antes, tornava-o ainda mais necessário
E reforçava sua árdua missão de alimentar
Quanto a ela, sequer se sabia mulher!
Só o conheceria outro dia
Só o seria depois
Ainda que, por meios nebulosos, o tivesse sido prematuramente
Contrariando a ordem natural da vida
Antecipando o tempo de o ser
Mas o leite
Tinha de tê-lo!
Tinha de oferecê-lo
Pois havia fome
Fraqueza
Quem disse que a doação é indolor?
Doía-lhe!
Até sangrava aquele mar de puro amargar
Naquela confluência de miseráveis seres necessitados
Esse mar tornava-se mais angustiante, desesperador
Que acontecia aos seus sonhos de criança quando, pequena adulta, dava de comer?
Que se fazia à sua infância quando, pequena mulher, dava de beber?
Distanciava-se de seu eixo hereditário
Renegava um futuro previsível
Abraçava um destino?
Uma sina?
Vislumbrava um incerto amanhã diferente
Uma mulher se formava
Uma mãe se fortalecia
E uma criança secava
Pois segurou em seus braços
Sustentou em seus ombros
A casa, a família, os eus, os tus
Seus ocultos pesos, dores, segredos
O peso de todos nós
O peso de todos os nós.
(14/08/2011)